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Bundesliga lidera corrida por inovação em transmissões de futebol

Logo após a pausa de inverno da temporada passada da Bundesliga, em janeiro deste ano, o Bayern de Munique goleou o Schalke por 5 a 0 em mais um passo rumo ao octacampeonato seguido da competição.

Neste duelo, quando os Bávaros já venciam por 3 a 0, Robert Lewandowski invadiu a área pela esquerda, passou pelo marcador e viu o goleiro adversário fechar o ângulo, com outros dois rivais em volta.

Lewa, então, preferiu passar a bola para Thiago Alcântara, livre na região da marca do pênalti. O polonês sabia que aumentaria as chances de seu time marcar. Não sabia exatamente em quanto, mas a Bundesliga sabia: de 19% para 53%.

Essa estatística de “Expectativa de Gols” (ou XG, na sigla em inglês) pode ajudar a entender se um time foi muito eficiente, se o outro desperdiçou oportunidades demais ou se você errou aquela aposta online porque deu muito azar.

Ela é um dos destaques do novo serviço da Bundesliga chamado “Match Facts” (Fatos da Partida, em tradução livre), em parceria com a AWS (Amazon Web Services), empresa de tecnologia de nuvem ligada à Amazon.

A ideia é acrescentar informações à narrativa da partida. O golaço de Joshua Kimmich, por exemplo, na vitória do Bayern por 1 a 0 sobre o Borussia Dortmund, com um toque por cobertura da entrada da área, tinha apenas 6% de probabilidade de ocorrer.

Esses números e probabilidades atendem à demanda de uma geração que cresceu com muitas estatísticas no videogame e em outros esportes, como NBA ou NFL.

Em 2007, a liga alemã pendurou câmeras nos estádios para fornecer ângulos diferentes nas transmissões; foi o segundo grande campeonato nacional a aprovar a tecnologia da linha do gol; e o primeiro, ao lado da Serie A italiana, a usar o VAR nos jogos.

O canal de YouTube da Bundesliga é muito ativo, com melhores momentos, listas, personagens e brincadeiras. 

De acordo com a Betway, casa de apostas esportivas online, a Bundesliga controla toda a cadeia de produção das transmissões de suas partidas. Segundo o vice-presidente de inovação digital, Andreas Heyden, para melhor servir às empresas de mídia, é preciso agir como uma.

"Acredito que cada liga precisa definir seu próprio caminho e o nosso foi reconhecer que sucesso é cíclico", disse em entrevista à Betway. "Às vezes, você vence a Champions League, às vezes não. Como podemos nos tornar um pouco independentes desse ciclo? Outros clubes, outras ligas, fazem de maneiras diferentes. Outras ligas vendem patrocínio para suas marcas. Nós queremos manter a nossa limpa".

Há dois anos, a Bundesliga passou também a investir em startups de tecnologia por meio da estratégia “DFL for Equity”. Adquiriu participação, por exemplo, na empresa israelense Track160, que desenvolve um sistema de análise com base em inteligência artificial, ou na Athletia, companhia de Colônia especializada em proteção de direitos autorais.

"Sempre que trabalhamos junto com uma empresa, o valor dela cresce. Ela tem acesso a nosso conteúdo, etc. Se pudermos criar um modelo em que investimos em uma empresa, conteúdo, marca, rede, contato, e ajudamos essa empresa a crescer, e ela é vendida para o Google (por exemplo), teremos nossa parte. Então é uma potencial fonte adicional de renda", explicou Heyden.

E os outros torcedores?

A Bundesliga se destaca por estádios cheios e lotação quase máxima em suas arenas. Quem vai ao jogos não tem o mesmo interesse de quem consome o produto pela televisão, com tecnologia e tudo mais envolvido.

“A relação da Bundesliga com os torcedores que vão ao estádio é baseada no valor inestimável desses torcedores para o marketing do produto”, disse Jost Peter, membro do conselho da Unsere Kurve (Nossa Curva), organização que reúne 21 grupos de torcedores e promove a cultura de arquibancada.

“Isso inclui muitos conflitos que ficam sem solução, aos quais a Bundesliga presta atenção apenas se for forçada. Críticas ao sistema de ‘futebol moderno’ não são ouvidas. A ‘relação única’ é fazer todo o possível para desenvolver o produto, mesmo contra os interesses dos torcedores”.

Segundo Peter, o clima nos estádios alemães é único porque os espectadores podem ver o jogo em pé. Existem também ingressos em todas as faixas de preço e muita diversidade entre os seus grupos. A tecnologia não foi feita para eles – com exceção da linha do gol, facilmente compreendida das arquibancadas -, mas para quem fica em casa.

“O torcedor de TV é livre para fazer outras coisas. Se o jogo estiver chato, ele precisa de mais artifícios para continuar vendo. No estádio, temos 50 mil perspectivas diferentes. A TV precisa de cinco ou dez câmeras para imitar isso”, disse.

“Não me entenda errado. Inovação é parte do futebol. O jogo se desenvolve o tempo inteiro, mas, para o torcedor de estádio, é um evento social também. Encontramos amigos e vivemos nossos rituais. Fazemos mais do que apenas ver futebol e beber cerveja”.

Prêmio por tecnologia

No começo deste ano, a Bundesliga recebeu um prêmio de prestígio, superando concorrentes como a NBA e o WWE (luta livre), em Las Vegas, pelo teste com tecnologia 5G durante um jogo entre Wolfsburg e Hoffenheim, em setembro de 2019, em parceria com a Vodafone.

Convidados puderam testar o protótipo do novo aplicativo que entrega também ao torcedor que está no estádio aquelas estatísticas avançadas em tempo real, como a Expectativa de Gols ou o quão rápido um jogador está correndo, contando com gráficos em realidade aumentada.

“Como torcedor que visita estádio desde criança, não consigo imaginar que isso seja importante para minha experiência”, disse Peter. “Não preciso de avanços tecnológicos para acrescentar ao que vejo com meus próprios olhos. Tenho contato direto e emocional com todos e tudo que acontece em campo e tento interpretar da minha maneira”.

Já segundo Heyden, as inovações são colocadas em prática para melhorar a experiência, não para substituí-la.

"Não haverá uma situação em que você precisa ter um aplicativo aberto para entender o jogo. É um jogo fácil (de entender). Vamos investir em nova tecnologia apenas para mídias? Sim. Porque 99,9% dos torcedores da Bundesliga nunca irão ao estádio. Temos 500 mil pessoas indo aos estádios e milhões ao redor do mundo".

A estratégia da Bundesliga tem produzido números excelentes, ainda de acordo com a Betway. No último relatório, publicado em fevereiro deste ano, os 36 clubes das duas primeiras divisões da Alemanha tiveram, pela primeira vez, receitas combinadas superiores a 4 bilhões de euros.

O novo contrato de transmissão, válido entre 2021 e 2025, foi fechado por 4,4 bilhões de euros, um decréscimo de apenas 200 milhões de euros em relação ao anterior, apesar das incertezas causadas pela pandemia. 

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