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Sebastian Deisler: dor no corpo e na alma

Por Alexander Rodrigues

Em esportes de contato como o futebol é sempre comum que hajam lesões. Juninho Pernambucano declarou certa vez que a dor faz parte do uniforme do atleta, e ele não está errado.

A questão é que as lesões não necessariamente mexem apenas com a parte do corpo contundido, elas também podem reverberar em coisas maiores, e a história de Sebastian Deisler nos dá a noção desse fato.

SEBASTIAN DEISLER: DOR NO CORPO E NA ALMA

Sebastian Deisler começou sua carreira no Borussia Mönchengladbach, mas foi no Hertha Berlin que chamou atenção por ser um meia técnico e driblador, bem diferente do estilo alemão da época.

Deisler, logo na sua primeira temporada na capital, conseguiu junto com seus companheiros levar o Hertha à 6ª colocação da Bundesliga de 99/00. Suas atuações logo renderam a ele o apelido de Basti Fantasti.

No Hertha, Deisler ganhou o apelido de “Basti Fantasti”.

Basti foi convocado para a Euro 2000 e atuou como titular em dois dos três jogos que a Alemanha fez na competição. Uma vexatória eliminação na primeira fase.

Em 2001, viu a sua participação na Copa do Mundo de 2002 ir pelos ares devido a uma grave lesão no joelho direito, lembrando que ele era cotado para ser titular nesse mundial.

Mesmo assim, o gigante Bayern de Munique via no jovem de 22 anos uma promessa de craque e não titubeou em pagar 9 milhões de euros ao Hertha para contar com o meia.

CRÍTICAS EM BERLIN E PRESSÃO EM MUNIQUE

A sua transferência de Berlin para Munique foi muito estressante para o jogador, já que ela já estava selada antes da temporada acabar, mas Deisler fora aconselhado pelo diretor Dieter Hoeneß a manter em sigilo para evitar uma polêmica.

A questão é que o tabloide alemão Bild divulgou que o acordo já estava selado, Basti, que até então era muito querido pela torcida do Hertha mesmo com as lesões, agora enfrentaria uma chuva de críticas por ter omitido que iria deixar o clube. 

Anos depois, em entrevista ao jornal Die Zeit, o jogador afirmou que: “Eu sabia que deveria ter parado naquele momento.” E completou com: “Hoeneß ficou parado e apenas observando enquanto eu era perseguido em Berlin”.

Esse foi o início do seu desapontamento com o futebol, que tomou proporções maiores ao vestir a camisa pesadíssima do Bayern de Munique, que traria muita pressão para seus ombros.

Mesmo se recuperando de lesão, Deisler já chegara a Baviera com o então técnico Ottmar Hitzfeld declarando que o via como o sucessor natural de Stefan Effenberg, um dos melhores jogadores da história do clube.

O INÍCIO DA DEPRESSÃO

A lesão somada a essa pressão logo de cara, fazia com que Basti começasse a desenvolver uma forte perda de paixão pelo jogo e uma consequente depressão.

Em novembro de 2003, ele começou a se tratar em uma clínica de Munique, e por isso, se retirou do futebol nesse período, fazendo com que perdesse a Euro de 2004. 

Na época, Basti declarou que “Não há um tempo planejado e nem vou colocar pressão em mim novamente. Essa é uma lição que aprendi nas últimas semanas. O tempo (De retorno) ainda está muito longe. Primeiro eu tenho que ficar bem”.

Sebastian Deisler retornou meses depois, mas teve uma recaída em outubro de 2004, o que o levou a outro período fora dos gramados. Quando retornou, reconquistou seu lugar no time do Bayern e suas atuações vinham melhorando de tal forma, que ele voltaria a ser cogitado para a seleção alemã.

UMA BREVE ESPERANÇA

Deisler jogou o final da temporada 04/05 e grande parte do ano de 2005. No Bayern, com a saída de Ballack para o Chelsea, coube a ele a posição de pilar central do meio campo bávaro, que foi campeão alemão e da Copa da Alemanha daquela temporada.

Voltou também à seleção alemã, que terminou em 3º lugar na Copa das Confederações, perdendo para o Brasil nas semis. Basti foi camisa 10 e titular em quatro dos cinco jogos da Mannschaft na competição.

Do seu seu pé saiu o cruzamento para o gol de Hanke no 3×0 contra a Tunísia na primeira fase. Na derrota para o Brasil na semifinal, ele bateu o escanteio que encontrou a cabeça de Podolski para empatar o jogo naquele momento.

Na decisão do terceiro lugar contra o México iniciou a jogada que acabou na assistência de Schweinsteiger para Podolski abrir o placar. Com tudo isso, sua vaga no time da Alemanha na Copa que seria disputada em casa em 2006 era praticamente certa. 

Neste mesmo período, houve o nascimento do seu filho, o que contribuiu com essa ótima fase.

O GOLPE FINAL

Aí veio mais um golpe duro na carreira e na vida do alemão. Em março de 2006, faltando alguns meses para a Copa, Basti teve uma nova lesão no mesmo joelho direito que atrapalhou seu início de carreira.

Ele ainda voltaria em novembro daquele ano, mas pela sua falta de confiança no seu joelho e por se sentir limitado, em 16 de março de 2007, onze dias após completar 27 anos, Deisler anunciou que estava se retirando do futebol. 

“Eu não tenho mais nenhuma fé real no meu joelho. Isso tem sido uma provação, eu não posso mais jogar com o nível certo de divertimento e eu não faço nada pela metade".

Ainda com esperanças de que Basti mudasse de ideia, o Bayern não cancelou o contrato do jogador que ia até 2009, porém ele realmente nunca mais voltaria aos gramados.

Deisler lançou sua biografia em 2010, chamada “Zurück ins Leben”, algo como “De volta à vida”. Infelizmente, lançado apenas em alemão. 

O livro mostra a falta de apoio psicológico que teve na sua época de Hertha Berlin, as lesões e a dificuldade de se encaixar no universo competitivo do futebol, que, para ele, não fazia mais sentido.

No mesmo ano, Deisler voltou a se pronunciar após a morte do goleiro Robert Enke, que havia cometido suicídio após seis anos lutando contra uma depressão, agravada pela morte de sua filha, em 2006.

Deisler, que viveu isso na pele, veio a público pedir que houvesse uma maior atenção por parte de clubes e federações com a saúde mental dos atletas.

Desde então o ex-atleta é muito reservado na sua vida pessoal, sem muito contato até com ex companheiros da época de jogador.

Sebastian Deisler vive atualmente em Freiburg, casado com uma brasileira, Eunice Santana, com quem tem um filho chamado Raphael.


Tags: Bayern de Munique, Bundesliga, Sebastian Deisler, Bayern, FC Bayern, Bundesliga, Campeonato Alemão

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